“Superação”: Damares se redime com o público lançando um prato cheio para os corais, confira nossa crítica

Na maioria das vezes, a graça de acompanhar um artista ou banda que se gosta é ficar atento às

“Superação”: Damares se redime com o público lançando um prato cheio para os corais, confira nossa crítica

Na maioria das vezes, a graça de acompanhar um artista ou banda que se gosta é ficar atento às intenções e caminhos que este intérprete está tomando. Muitos artistas que englobam o sistema da música não precisam explicar o significado de suas obras, fica a cargo dos fãs perceberem a virada das marés, que muitas das vezes ocorrem naturalmente, e esse é o ponto chave de cada projeto proposto por eles. Estes nos presenteiam com surpresas e novidades que podem surpreender ou decepcionar, mas não importa. O legal é não saber o que vem pela frente, curtir aquela ansiedade pela chegada do disco novo… do single novo… do novo clipe… e ver o que é que vem por aí.

Desde que chegou ao estrelado em 2008, graças ao amado álbum “Apocalipse” (2008), lançando posteriormente mais duas obras primas; “Diamante” (2011) e “O Maior Troféu” (2013), discos que lhe renderam certificado de diamante, é inegável dizer que Damares se tornou uma das mais influentes representantes da música pentecostal da atualidade, mesmo que divida opiniões em certos pontos. Amada por muitos e questionada por outros, estes, geralmente alegando exagerado triunfalismo ou revanchismo em suas músicas, pois bem. Damares venceu as más línguas para se tornar o que é hoje: uma grande artista que não precisa se provar em nada.

Quase quatro anos após o controverso “Obra Prima” (2016), que embora seja um projeto autêntico e tecnicamente bem formulado, com 90% do repertório cristocêntrico, adotando uma visão mais visceral a artista com a jogada do pop congregacional, a mudança radical de gênero não agradou muito os fãs da intérprete e é considerado por muitos como um tiro no pé. Bom, como dizem por aí: ano novo, vida nova. Agora, cantora parece ter deixado as canções do discutível álbum para trás e tratou de atender o apelo de seus fãs para voltar as suas origens, correspondido com o disco digital “Superação“, que trouxe novamente a produção musical do maestro Melk Carvalhedo, com quem possuí uma parceria que já perdura por 15 anos, além de dar uma chance para o novato Weslei Santos, que se mostrou competente nas faixas que produziu.

Temos como abertura a essa poética construção ímpar a faixa “Eu Quero Ver o Seu Milagre“, que parece ter ciência da sua estrutura e funciona como uma apresentação teatral, não revelando o restante do conteúdo – e esse é o aprazível pano de fundo que nos acompanha do começo ao fim da obra.

Sua segunda faixa, “Me Leva“, embora seja lindamente letrada numa adoração singela, aqui, desde a instrumentalização vocal até o arranjo composicional se forçam em um monótono e repetitivo ciclo e se torna datada em pouquíssimo tempo. Felizmente, a volta por cima já ocorre nas próximas faixas, alçando voo em belíssimas e melódicas tracks, que sem dúvida explora a potência da cantora, e apresenta uma conclusão bastante satisfatória e que resume cada uma das mensagens das composições.

A faixa que dá nome ao projeto, “Superação“, cumpre com o papel de peso para título e nos mostra uma canção poéticamente bem composta e bem trabalhada. Ao mesmo tempo em que é extremamente pessoal, apresenta um maior apelo universal, ainda que chega a ser um pouco melancólico. Além da confiança em Deus, a letra da faixa também trata como pano de fundo a depressão e a vontade de se auto provar.

Aqui somos apresentado a tradicional faixa que todo álbum pentecostal que se preze tem de possuir: o forró. Embora mostrado com arranjos atuais e modernos como de um sertanejo universitário, estilizado no latino-americano, “O Convidado” vem com tudo com sua melodia envolvente e memorável, cheia de viradas perfeitas para você decorar rapidinho e cantar junto o dia inteiro.

Com Glória” é uma – das muitas – faixas que parecem terem sido produzidas especialmente para os corais. Com o backing fluindo em pontos chaves da letra, além de seu fácil refrão que permite a um convidativo céu descer sobre a igreja. Nesta faixa, Damares trilha mais profundamente a sua “nova” identidade, explorando a si mesma ao máximo, não se cansando e nem nos cansando.

Eu Faço parte” parece ter sido retirada de seu disco anterior devido os moldes dos arranjos aqui utilizados, embora seja a canção que mais nos roube a atenção com sua rima proposital lúdica, estruturando-se como mais uma faixa a ser utilizada por corais, embora o backing não apareça com tanto peso quanto a canção anterior. Ainda sim, faixa consegue se sobressair e se torna um dos destaques da obra. Que bom que a música foi reservada para este projeto, ou iria acabar passando despercebida pelo público.

Quando ainda estava trabalhando na divulgação do primeiro single do álbum, cantora revelou que o disco traria algumas participações especiais, mantida a sete chaves até a divulgação total do disco. Pois bem, em “O Cuidar de Deus” vemos o primeiro resultado das colaborações que artista guardava, trazendo Lucas Roque e Gabriel para um dos duetos mais marcantes da carreira da paranaense. Os irmãos foram uma ótima adição ao repertório de Damares, ainda mais numa canção de letra que se fermenta naturalmente e que não se prende em produções puramente estética.

A track seguinte é diferente de tudo que já ouvimos antes, em “A Mesa“, vemos Damares introduzindo elementos nunca usado antes em suas produções, como o instrumento israelense chofar, que deixa a canção ainda mais avivada e com gostinho de quero mais, refletindo sua envolvente performance solo. Os elementos aqui utilizados corroboram para a explosão que é a faixa, que se sustenta por si só, engrandecendo a um controlado congregacional que nos conquista de início ao fim.

Sua nona canção talvez surge como a track mais emotiva do CD, principalmente quando pensamos nos últimos acontecimentos no ministério da paranaense. “O Processo” põe em prática toda essa questão logo de cara, onde Damares preza pela palavra cantada e alcança a mensagem que desejava passar desde o princípio: a superação.

Pai, Preciso de Ti” age como uma quebra de barreira ao longo das tracks, criando uma mudança brusca entre os atos principais do álbum, ainda que não tira a glória que o álbum em si carrega. Aqui vemos a intérprete se mostrando vulnerável como nunca, em uma ministração pura e simples, como uma versão voz e violão sempre pediu.

Chegamos a faixa que todo líder de louvor ama ouvir, com o backing sendo explorado de início ao fim da canção. Voltando aos elementos abordado algumas tracks anteriores, Damares junta tudo que vinha apresentando para entregar a deliciosa “Deixa Deus Fazer“, que usa e abusa em todo corpo musical arranjos cronometrados que cresce com a cantora na medida que a música avança.

Esta é a canção mais animada (depois de o convidado) da obra. Trazendo a colaboração de Weslei Santos, Damares mergulha de cabeça no Black Music de maneira mais inesperada possível. “Nada Poderá” reflete na enérgica performance do duo, nos levando a redescobrir um novo hit bem no finalzinho da obra.

Conclusão

A coisa mais perceptível ao ouvir “Superação” é o cuidado com o repertório. A seleção das músicas foi feita de forma cuidadosamente, no intuito de contar uma história coesa para manter a multidão de admiradores de Damares e conquistar outros novos públicos. Aqui, intérprete mergulha de cabeça em escopos mais maduros e mercadológicos, apostando em envolventes pérolas vibrantes e com poderosas letras.

Voltando aos holofotes de modo categórico, Damares fez um disco essencialmente pentecostal, trazendo elementos de obras anteriores para modificalos para a tendência do mercado atual, abrindo portas para subgêneros que não aparecia com tanta força em sua carreira.

De fato, “Superação” é um disco muito correto, tecnicamente bem pensado, com poucos deslizes realmente significativos.

Ouça as faixas abaixo:

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Gilcinei

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